domingo, 13 de junho de 2010

Desenvolvimento...

Dou comigo por vezes a pensar o que é desenvolvimento. A propósito das ditas grandes obras é muito habitual ouvir-se dizer que contribuem para o desenvolvimento de uma região.

Hfrsantos deixou um comentário num post que me deixou novamente a pensar, e por isso lhe agradeço.

Ora vejam lá se isto, que descrevo a seguir, não é desenvolvimento: sair de casa em direcção ao trabalho (e para isso é preciso ter um emprego!) e, no caminho, utilizando um transporte colectivo, ainda conseguir ler umas páginas de um livro, ou tão somente as gordas de um jornal do dia; Ao final do dia conseguir regressar cedo a casa, ou seja, com tempo para estar com a família. Por exemplo, sair de casa a pé e ir até um espaço verde perto de casa e dar uns toques numa bola, com o miúdo mais novo ou até com um vizinho. Ah…e no caminho para casa ainda deu tempo para ler mais umas páginas do tal livro; Ao fim de semana, entre as inevitáveis tarefas domésticas, ter um espaço perto de casa para voltar a passear, praticar desporto, o que apetecer; etc, etc.

Bom…, isto são só alguns exemplos. Em minha opinião, as políticas públicas devem encaminhar a sociedade neste sentido, e não no outro. Qual outro? Aquele em que perdemos 2 horas nos transportes para ir e vir para o emprego (seja no nosso carro ou pendurado num mau transporte colectivo), em que chegamos tarde a casa e sem tempo e paciência para mais nada. Em que, ao fim de semana, para ir passear a algum lado nos apinhamos em mais filas de automóveis…..

Sei que isto demora, que não é de um dia para o outro, mas é preciso caminhar no sentido certo.

Hfrsantos diz-nos que “Lisboa tem de ter um projeto de futuro, uma direcção.” Pois eu proponho um projecto diferente, como já viram. Prefiro sonhar noutra direcção.

Hfrsantos descreve-nos melhor o tal projecto:
“Na Margem Sul nascerão novos projetos imobiliários com vista privilegiada para Lisboa a 10 minutos do centro de Lisboa”

A 10 minutos de Lisboa? Mas como? Já não existem casas suficientes na zona de Alcochete que dizem ser a 10 minutos de Lisboa? Mas, afinal, são a 30 minutos de engarrafamento…da 2ª circular, em Sacavém…faltando mais outros 30 minutos até ao centro de Lisboa. Não é melhor promover a reconversão urbana no centro de Lisboa (e mesmo em zonas não tão centrais) do que construir novo e aumentar a pressão sobre o Estuário do Tejo, uma zona ambientalmente sensível? Não é melhor requalificar algumas frentes Tejo, permitir que as pessoas as usufruam, do que fazer crescer novas frentes? A população residente, incluindo na Área Metropolitana de Lisboa, tem crescido pouco…e Lisboa cidade continua a perder pessoas.

Eu, por mim, prefiro, para além da reconversão, até ocupar algumas zonas ainda com espaços em Lisboa, densificando a cidade, mas deixando espaços de lazer, construindo uma cidade para as pessoas. Claro que algumas das zonas onde passeámos com o Street View do Google podem/devem ser ocupadas com novos usos. Concordo, desde que se aproveitem esses espaços para colmatar algumas das carências de Lisboa, de que são exemplo os espaços de lazer, muitas vezes os pequenos espaços de lazer. E, já agora, deveremos preservar a memória do local, incluindo a memória industrial.

Hfrsantos diz-nos também “Construir-se-ão (na margem Sul) marinas para yates e escolas de yates e hotéis de luxo para passageiros de yates e paquetes de luxo”

Por acaso já reparam que a Marina do Parque das Nações está vazia? Já reparam nos muitos lugares vagos que há na Doca de Sto amaro? Então, para quê pensar em fazer mais? Porque não fazer pequenos hotéis (incluindo de luxo) na zona histórica de Lisboa. Porque não permitir que os turistas que chegam a Sta Apolónia de paquete possam partir para uma volta turística por Lisboa, seja a pé ou de bicicleta. Convenhamos que hoje sair a pé de Sta Apolónia não é muito agradável.

Concordo com hfrsantos quando diz que “Lisboa tem de aproveitar mais o turismo relacionado com o mar”. Sim, claro que sim. Não me esqueço de ver em Barcelona os turistas pagarem (e bem!) por uma volta de 15 minutos no porto de Barcelona. Porque não vejo eu no Tejo os turistas passear? Há alguns, mas poucos. O nosso Tejo, aqui na zona de Lisboa, permite até passeios de natureza, em direcção à reserva natural. O que falta?

O que falta para o rumo que eu gostaria que Lisboa e a sua área metropolitana tomasse? Não sei bem, faltam muitas coisas. Mas de uma coisa tenho a certeza, não falta gastar 500 milhões de euros num tabuleiro rodoviário!

4 comentários:

  1. Nem de propósito, na semana passada fui fotografada para uma que estava a fazer uma reportagem sobre o que as pessoas fazem nos transportes. Lá fiquei eu e o meu livrinho!
    Filipa

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  2. Certamente mais feliz que no carrinho, paradinha numa fila de trânsito e a ouvir as mesmas notícias de 3o em 30 minutos...e quase sempre notícias pouco agradáveis.

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  3. Fantastico o texto. Da que pensar.
    500% de razão sobre o comentario "casas a 10 min de Lisboa". Mas alguém ainda vai nessa conversa??

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  4. RCurto - obrigado pela visita e pelo comentário.
    Infelizmente, a mim parece-me que ainda há quem vá na conversa. Nessas e noutras!Continuo a ver habitações a crescer em sítios muito estranhos.

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