quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Viver na Margem Sul - a opinião de um leitor

Um leitor deixou-nos um comentário ao post "Quanto custa morar na margem sul, na região de Alcochete, e vir todos os dias para Lisboa?" que considero muito interessante. Obrigado pela participação.

Pareceu-me interesante trazer à primeira página o comentário, nomeadamente na esperança de que mais leitores participem.

"Anónimo disse...
Mudei-me para Alcochete. Tenho vindo de carro mas deixo-o perto da Gare do Oriente. As cidades estão cada vez mais incompurtáveis para nos deslocarmos de carro. O passe da TST custa 60€ só para atravessar a ponte Vasco da Gama. Baralhando e concluíndo, e como já foi dito aqui atras, nenhum dinheiro do mundo paga a alteração de hábitos e iniciativa própria de mudarmos de vida. Alcochete é considerada uma das zonas de melhor qualidade de vida em PORTUGAL. Agora verifiquem porquê, procurem por vcs próprios. Encontrem um local numa area de 70kms em redor de Lisboa com melhor qualidade de vida. Agora sei do que falo e mesmo que gastásse mais ou menos dinheiro e fizésse contas ao detalhe, nada iría mudar a minha opinião. Vale a pena mudarmos, gerir as nossas vidas da melhor maneira, criando prioridades onde elas antes não existiam. É a melhor Equação da Vida que se pode fazer.
Ex-Alfacinha
10 de Agosto de 2010 02:30 "


Resolvi pedir-lhe que nos explicasse melhor o que apreciava em Alcochete. E aqui está a resposta:

"Anónimo disse...
Olá Pedro
A questão tem a ver com hábitos e rotinas de vida a que estamos habituados e que de repente são alteradas. Essas alterações, no meu caso, são profundas. Morei muitos anos na zona da "famosa" Lapa junto a Santos. Uma zona considerada nobre da cidade. De nobreza está o povo cheio e esquecemo-nos de coisas tão essenciais e normais como viver numa zona quase plana, onde não temos problemas de estacionar um carro, onde podemos fazer tudo ou quase tudo a pé, onde nos podemos deslocar de bicicleta pela natureza ou molhar um pé na praia dos Moinhos num fim de tarde de trabalho, onde a simpatia e a hospitalidade das pessoas me são estranhas em comparação com a bestialidade humana que as próprias cidades constroem, onde quase me esqueço de usar o travão no regresso a casa ou a caminho do trabalho porque os somáforos e o constante para-arranca, a constante degradação dos pisos das estradas que me eram familiares.quase não existem, onde não fico horas numa fila na caixa de um supermercado porque ainda estão relativamente vazios, onde descubro aves e pássaros que os conhecia apenas da tv ou das idas ao zoo, onde os healths-clubs, piscinas, zonas verdes e a imensidão de uma vista deslumbrante dos por de sol tendo por base a Lisboa da qual não me separei mas que a vejo com alguma simpatia e esperança que um dia se renova e me dê provas que se pode ter uma vida agradável como em muitas cidades europeias têm o previlégio de ter. O preço que se paga por uma casa do outro lado da margem, independentemente da margem, é incomparávelmente comparável. Pagar um T2 por 200 mil € quando se pode ter um T3 por 140 mil € e apreciar um fantástico pôr do sol todos os dias, de um lugar onde ainda há lugar para todos, é irremediavelmente inigualável.
26 de Agosto de 2010 07:12 "


Compreendi perfeitamente a resposta e concordo com praticamente todos os argumentos. Mas lembrei-me imediatamente de uma outra pergunta:
Não seria melhor ususfruir de tudo isto e ter um bom transporte público colectivo para vir trabalhar a Lisboa?
É isto que defendo. Em vez de gastarmos o dinheiro num novo tabuleiro rodoviário, vamos antes gastá-lo a melhorar os transportes colectivos, permitindo que as pessoas de Alcochete, do Barreiro, etc...possam vir para Lisboa sem terem de perder tempo, dinheiro e qualidade de vida nos engarrafamentos. No post "Onde podia ser gasto o dinheiro do tabuleiro rodoviário?" estão alguns números.

Quanto aos defeitos que aponta a Lisboa...moro por cá, deste lado, e bem os conheço! Mais um melhor local para investir dinheiro público do que a construir tabuleiros rodoviários.

Mais alguém quer participar?

5 comentários:

  1. Eu quero, quero só deixar uma "achega".
    A vida com crianças é bem mais difícil de gerir em termos de horários. Penso que viver perto do local de trabalho, ou seja, diminuir as deslocações diárias que ajudará a gerir o dia-a-dia com crianças.
    Morando em Alcochete, as crianças andam na escola onde? A que horas se consegue ir buscá-las ao final do dia? Vão com os pais para Lisboa de carro? Quanto tempo passam no carro?

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  2. Há zonas em Lisboa com qualidade de vida invejável, por ex. o Parque das Nações. Sim, é verdade, não é barato, mas também não é tão caro como por vezes se pensa.
    A Alta de Lisboa, uma zona também nova, tem obrigação de seguir o bom exemplo. É importante que avance e se resolvam alguns dos problemas crónicos.

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  3. Sobre morar fora de Lisboa e sobre morar na margem Sul...
    Sei que existe maior qualidade de vida fora de Lisboa e, muito importante, que o custo de vida é menor. Sei que o "tempo" dura mais tempo fora de Lisboa. Sei que é possível viver uma vida mais saudável, ao ar livre, e que o consumismo é menor. Conheço várias pessoas que optaram por viver em Torres Vedras, Vila Franca de Xira, Palmela, ou seja, geograficamente "morar fora de Lisboa" abrange uma área muito grande!
    Mas existem desvantagens que podem ser muito significativas e desequilibrar a balança, nomeadamente a gestão da vida familiar quando existem crianças.
    As crianças têm direito, e elas próprias exigem, a atenção, disponibilidade e cuidados diversos (por ex. escola, idas ao médico) por parte dos Pais. Acho que ninguém, pelo menos ninguém que goste de crianças, questiona isso.
    As generalidade das crianças pequenas (até +/- aos 5 anos pela minha experiência da família e amigos) está frequentemente doente: da dor de barriga, às constipações e gripes, as otites, as bronquiolites, que se repetem uma e outra vez, e também a varicela, a papeira, etc, etc. E quando os sintomas de doença surgem obviamente que os Pais, ou alguém da sua rede familiar/ amigos, tem de a tratar, levar ao médico/ hospital. Isto implica que os Pais se ausentem do local de trabalho. E quando moram fora de Lisboa significa também que já não regressam ao local de trabalho nesse dia, mesmo que o problema se resolva rapidamente.
    E porquê? Porque a rede, as suas conexões e as próprias alternativa entre as várias redes de transportes públicos são insuficientes e ineficientes na relação entre Lisboa e "fora de Lisboa", porque os transportes públicos dentro de Lisboa são lentos, estão mal articulados e não estão planeados nem são suficientes para o volume de passageiros.
    É imperioso (1) planear a rede pensando no conjunto dos transportes públicos, dentro de Lisboa e na relação entre Lisboa e "fora de Lisboa", (2) investir €€€€ no desenvolvimento dessa rede, (3) garantir o eficiente (frequência, rapidez, nº e local das paragens, outros) funcionamento da rede, (4) promover a utilização da rede diminuindo o fluxo de carros.
    E resolver estes problemas é muito mais importante e, de facto, contribuirá para melhorar a qualidade de vida de todos os que trabalham em Lisboa, quer vivam ou não na capital.
    P.S. claro que pode haver outras razões relacionadas para os Pais não regressarem ao trabalho, como por ex. a inexistência de rede familiar/ amigos, mas cada família organiza-se como pode e sabe.

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  4. Caro anónimo do dia 2 de Setembro,

    Muito obrigado pela participação.
    Acho que a vida é mais simples se se desenrolar numa área mais restrita, evitando grandes deslocações diárias. Também ajuda ter uma rede de apoio familiar (por ex. avós) que se desloquem na mesma zona. Penso ser este um aspecto importante a ter em consideração, por ex., na escolha de uma habitação.

    Quanto aos transportes públicos colectivos...confesso que até estou cansado. É que há vários anos que há tópicos em que quase todos estamso de acordo...mas depois passá-los à prática é outra história...continua a investir-se em tabuleiros rodoviários. O sector dos transportes, em especial do "do nosso carro", é um sector onde é muito difícil mexer, mexe directamente com o eleitor.

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  5. Boas,

    considero bastante elucidativo o novo morador de Alcochete queixar-se que cada vez é mais difícil andar de carro em Lisboa (mostrando que se pudesse o faria) e depois dizer que é bom que em Alcochete se possa andar a pé. Ora se uma das razões porque é tão difícil andar a pé em Lisboa é precisamente por causa do excesso de automóveis, dizer que é pena que não se possa circular melhor de carro em Lisboa revela grande miopia. Esperemos que mais míopes não se lembrem de ir com os seus automóveis morar para Alcochete..

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