quinta-feira, 27 de maio de 2010

Quanto custa morar na margem sul, na região de Alcochete, e vir todos os dias para Lisboa?

No outro dia conversava com um conhecido e a conversa acabou por fugir para a mobilidade na Área Metropolitana de Lisboa, o custo das deslocações, etc, etc. Sim, é verdade, talvez eu tenha forçado o tema!

Este meu conhecido mora na margem Sul e queixava-se que, afinal, se calhar tinha valido mais a pena comprar uma casa em Lisboa, do que pagar portagens e gasóleo diariamente, a que se soma o tempo perdido.

Com este mote, resolvi fazer as contas. Pressupostos:
- Carro ligeiro, utilitário, bastante eficiente e a gasóleo – 5 l/100 km; 98 g/km de CO2
- Distância diária (Alcochete – Saldanha – Alcochete) – 72 km
- Custo da portagem na Ponte Vasco da Gama – 2,1 € (contei com 10% de desconto do Via Card)
- Preço do gasóleo – 1,2 €/l

Fazendo as contas, obtenho um encargo mensal de 141 euros e 158 kg de CO2.
Nos cálculos anteriores só considerei o custo marginal, ou seja, estou a esquecer-me dos custos do carro, das manutenções, do seguro, etc, etc. Penso que a maioria das pessoas, que já tem o carro à porta de casa, é assim que faz as contas.
Mas, se pretendesse incluir o custo total, talvez não seja uma má aproximação utilizar o valor do custo por km pago na função pública (0,40 €/km). Ora, feitas as contas assim, o custo mensal passaria para 634 euros!

Saber se estes valores são altos ou baixos é uma tarefa complicada, dependente de muitos outros factores, tais como o orçamento disponível do utilizador do carro, a necessidade do carro para outras deslocações durante o dia, etc, etc. O que faz mesmo falta é contabilizar o número de horas perdidas (a fazer de motorista do próprio) e o tempo que se podia ganhar se os transportes colectivos funcionassem bem. Ora reparem, desconfio que uma pessoa no trajecto indicado (Alcochete – Lisboa) gasta, por dia, cerca de 2 horas. Com transportes colectivos decentes talvez pudesse poupar 45 minutos! Muito? Pouco? No final do mês seriam 16,5 horas! Ora, se no fim-de-semana dormirmos 16 horas, restam-nos 32 horas, ou seja, as 16,5 horas poupadas correspondem a ter mais um dia de descanso por mês!

Que tal retermos estes números. Se o transporte colectivo para a margem Sul for melhor, talvez o meu conhecido pudesse ganhar, num mês:
- Entre 140 a 630 euros
- 1 dia de descanso extra
- Menos 158 kg de CO2 na sua pegada ecológica.


6 comentários:

  1. Também gostava de ver essas contas feitas para o infernal IC19. Tenho frequentemente conversas desse género e constato uma coisa. A vida de hoje é muito mais complexa do que era e as deslocações diárias já não são só compostas pelo tradicional casa/trabalho/casa. Esse é um dos argumentos que se usa muito para andar sempre de carro. Por isso acho que não chega fazer contas em euros. É mesmo possível mostrar que não é só dinheiro, é também tempo de qualidade que se pode ganhar.

    O que vejo é que se tomam muitas vezes opções do género: não me inscrevo no ginásio ao pé do emprego porque é caro, vou para outro que é mais barato (mas é mais longe, logo gasto mais em gasolina, em parquímetro e em tempo para lá chegar; e ainda que seja a caminho de casa é mais uma paragem que faço). Quantas vezes deixamos de fazer coisas porque temos o carro na revisão, como se não houvesse mais forma nenhuma de circular?

    Enfim, julgo que temos mesmo de mudar a forma como pensamos na nossa vida, em cada novo ano que começa. Mas mudar de estilo de vida (mesmo que seja para um mais saudável e mais ecológico) não é fácil.

    fungaga

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  2. Pois é, tempo é dinheiro! Mas tempo é, acima de tudo, qualidade de vida, qualidade de vida que o dinheiro não compra.

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  3. Caros Fungaga e Alberto,

    Vou tentar fazer umas contas para uma outra situação em que talvez consiga dar mais informaçaõ sobre o tempo poupado.
    Quanto à complexidade das deslocações. Sim, já li estudos que comprovam isso. Penso que o táxi pode ser uma ajuda para situações pontuais. Mesmo sendo caro, sai mais barato que utilizar o carro todos os dias só por causa das excepções em que o carro faz falta durante o dia.

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  4. Mudei-me para Alcochete. Tenho vindo de carro mas deixo-o perto da Gare do Oriente. As cidades estão cada vez mais incompurtáveis para nos deslocarmos de carro. O passe da TST custa 60€ só para atravessar a ponte Vasco da Gama. Baralhando e concluíndo, e como já foi dito aqui atras, nenhum dinheiro do mundo paga a alteração de hábitos e iniciativa própria de mudarmos de vida. Alcochete é considerada uma das zonas de melhor qualidade de vida em PORTUGAL. Agora verifiquem porquê, procurem por vcs próprios. Encontrem um local numa area de 70kms em redor de Lisboa com melhor qualidade de vida. Agora sei do que falo e mesmo que gastásse mais ou menos dinheiro e fizésse contas ao detalhe, nada iría mudar a minha opinião. Vale a pena mudarmos, gerir as nossas vidas da melhor maneira, criando prioridades onde elas antes não existiam. É a melhor Equação da Vida que se pode fazer.
    Ex-Alfacinha

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  5. Caro Anónimo de 10 de Agosto,

    Muito obrigado pela sua participação.
    Confesso que fiquei curioso com a sua situação. Não nos quer explicar com mais pormenor o que aprecia no sítio onde vive? Para que possamos compreender o que distingue Alcochete de outras localizações.
    Conheço Alcochete, mas de alguns passeios e visitas, não do dia-a-dia. E sim, concordo que é uma zona agradável, mas daí a suportar a deslocação diaria para Lisboa, tenho dúvidas.
    Ficamos a aguardar.
    muito obrigado.

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  6. Olá Pedro
    A questão tem a ver com hábitos e rotinas de vida a que estamos habituados e que de repente são alteradas. Essas alterações, no meu caso, são profundas. Morei muitos anos na zona da "famosa" Lapa junto a Santos. Uma zona considerada nobre da cidade. De nobreza está o povo cheio e esquecemo-nos de coisas tão essenciais e normais como viver numa zona quase plana, onde não temos problemas de estacionar um carro, onde podemos fazer tudo ou quase tudo a pé, onde nos podemos deslocar de bicicleta pela natureza ou molhar um pé na praia dos Moinhos num fim de tarde de trabalho, onde a simpatia e a hospitalidade das pessoas me são estranhas em comparação com a bestialidade humana que as próprias cidades constroem, onde quase me esqueço de usar o travão no regresso a casa ou a caminho do trabalho porque os somáforos e o constante para-arranca, a constante degradação dos pisos das estradas que me eram familiares.quase não existem, onde não fico horas numa fila na caixa de um supermercado porque ainda estão relativamente vazios, onde descubro aves e pássaros que os conhecia apenas da tv ou das idas ao zoo, onde os healths-clubs, piscinas, zonas verdes e a imensidão de uma vista deslumbrante dos por de sol tendo por base a Lisboa da qual não me separei mas que a vejo com alguma simpatia e esperança que um dia se renova e me dê provas que se pode ter uma vida agradável como em muitas cidades europeias têm o previlégio de ter. O preço que se paga por uma casa do outro lado da margem, independentemente da margem, é incomparávelmente comparável. Pagar um T2 por 200 mil € quando se pode ter um T3 por 140 mil € e apreciar um fantástico pôr do sol todos os dias, de um lugar onde ainda há lugar para todos, é irremediavelmente inigualável.

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