sábado, 17 de abril de 2010

Que sensação me deixou o Relatório da Comissão Independente para a Componente Rodoviária da TTT no Corredor Chelas/Barreiro

Li com imenso interesse o relatório que acima refiro. Contrariamente ao que é habitual nos estudos técnicos, é um documento sintético (excluindo anexos). É também, ou por isso, fácil de ler, adaptando-se à doença de que todos sofremos – pouco tempo!

No final da leitura, e após ler também os anexos, fiquei com uma grande dúvida – como foi possível chegarem à conclusão que “(…) é viável associar a componente rodoviária à nova travessia ferroviária (…)” [1]? É que lendo os anexos, e os pareceres de vários dos membros da Comissão, não parece possível que a conclusão seja essa.

Mas…esta conclusão parece-me um sim, mas! Ora vamos continuar a ler o que diz o relatório:
“A Comissão considera que (…) a introdução do modo rodoviário na Terceira Travessia do Tejo é justificável, tendo em atenção as seguintes restrições fundamentais: (i) optimização da correspondente solução estrutural, sobretudo no sentido de minimizar os impactos negativos da natureza ambiental, relativos ao ruído, à paisagem, à qualidade do ar e ao espaço urbano e património edificado; (ii)conclusão das vias circulares entre as várias travessias do Tejo; (iii) prossecução do modelo territorial estabelecido no PROT AML e (iv) imposições de restrições à mobilidade rodoviária na TTT.”

Serão estas “restrições fundamentais” realizáveis? Em especial relativamente às duas últimas, tenho imensas dúvidas. Por exemplo, alguém imagina que as portagens vão ser suficientemente elevadas para limitar o uso rodoviário? Já se esqueceram da guerra das portagens na Ponte 25 de Abril?

Isto a mim só me faz lembrar os tempos (felizmente) idos da nossa Selecção de futebol. Ainda era possível irmos ao mundial? Possível era, mas tínhamos de ganhar todos os jogos, a Inglaterra tinha de perder 3 a 0 contra Malta, a França tinha de perder 2 a 0 contra a República Dominicana, etc, etc…o resultado, salvo um ou outro milagre, era quase sempre o mesmo…ficávamos em casa!

[1] - Relatório da Comissão Independente para a Componente Rodoviária da Terceira Travessia do Tejo em Lisboa no Corredor Chelas/Barreiro, pág. 59.

6 comentários:

  1. Não vejo de que forma a contrução de uma nova travessia rodoviária poderá contribuir para as "imposições de restrições à mobilidade rodoviária na TTT". Parece-me um absoluto contrasenso.

    Este argumento do "Já agora..." também não me parece válido. O doente cortou um dedo e temos de lho enxertar? Olha, já agora, enxertamos dois, pode ser que venham a dar-lhe jeito...

    Construir mais uma travessia rodoviária não contribuirá para resolver os problemas da mobilidade metropolitana, só irá agravá-los. E tornar esta ponte muito mais cara do que deveria ser. Havendo a ponte Vasco da Gama como alternativa, não se justifica. E ainda por cima, pelos vistos, não conseguem justificar plenamente esta opção...

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  2. Filipa,
    Sugiro que leia com um pouco de mais atenção as conclusões da referida Comissão. Lá não diz que a TTT vai impor restrições à mobilidade. Diz antes que a rodovia é viável se existirem restrições à mobilidade. Algo em que eu também não acredito!

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  3. Alberto,
    Estamos de acordo: restrições à mobilidade rodoviária é justamente aquilo de que precisamos (bem feitas e acompanhadas de políticas de transportes colectivos eficazes) e o estudo reconhece-o; infelizmente, não me parece que seja através deste projecto que lá chegamos...

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  4. Provavelmente, a maior parte das pessoas que lêem este blogue concordarão que uma nova travessia rodoviária sobre o Tejo, junta com uma travessia ferroviária, tem um sério risco de incentivar o aumento do peso demográfico das áreas suburbanas mais afastadas da zona metropolitana de Lisboa. Uma travessia rodoviária deveria seguir o crescimento demográfico e nunca ser por si ser geradora de pressões desta natureza. Porém...
    Vivemos uma época em que pela primeira vez desde que os fundos europeus entraram em força em Portugal, isto é, há quase 25 anos, o dinheiro para os mega/megalo projectos pode escassear. Se calhar, este pode ser um mal que vem por bem, para impor alguma racionalidade a este tipo de investimentos. Neste quadro, todos os eforços para mobilizar a sociedade civil são meritórios...

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  5. Caro Vítor,

    Obrigado pela participação. Volte sempre!

    Estou quase de acordo em tudo, a falta de dinheiro pode ajudar a travar alguns disparates.

    Só não concordo totalmente com a passagem "Uma travessia rodoviária deveria seguir o crescimento demográfico (...)". O crescimento demográfico pode conduzir a uma solução de transporte colectivo e não necessarimaente em transporte individual. De resto, concordo em absoluto, fazer uma nova rodovia para gerar mais pressões, num território onde o novo aeroporto já trará pressões excessivas, é continuar a "dar cabo do país"...e com o dinheiro de todos, que é pouco!

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  6. Havia mais umas coisas nas entrelinhas...
    Já agora sim "porque quando eu Sr. Político vier da Praia/Algarve e o meu Tom-Tom me disser que os acessos a Lisboa estão congestionados... Opto pela ponte com menos trânsito que vai ser a nova pois a portagem será mais cara e o contribuinte em crise está a pagá-la... e eu com o meu belo ordenado... ponte+ordenado pago pelos impostos dos que estão engarrafados nas outras duas pontes... posso ir pela ponte NOVA !!"

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