domingo, 25 de abril de 2010

Ponte Vasco da Gama – um exemplo a estudar

A Ponte Vasco da Gama é em exemplo a estudar quando se pretende saber o efeito de uma nova travessia rodoviária, uma nova via radial a Lisboa. É certo que há muitos outros factores que mudaram de 1998 para a actualidade, mas vale na mesma a pena analisar o que aconteceu com a Ponte Vasco da Gama.
Vamos então começar por um gráfico. Será que a Ponte Vasco da Gama desviou tráfego da Ponte 25 de Abril? Será que a Ponte 25 de Abril ficou com menos tráfego?


Fonte: RAVE, Steer Davies Gleeve, VTM consultores in Relatório da Comissão Independente Para a Componente rodoviária da Terceira Travessia do Tejo no Corredor Chelas/Barreiro, Outubro 2007


E será que as pessoas têm optado mais pelo transporte individual ou pelo transporte colectivo? É importante lembrar que em 1998 foi inaugurada a via-férrea na Ponte 25 de Abril.
O gráfico seguinte representa a distribuição de transporte individual e transporte colectivo das travessias do Tejo em Lisboa.




Fonte: RAVE, Steer Davies Gleeve, VTM consultores in Relatório da Comissão Independente Para a Componente rodoviária da Terceira Travessia do Tejo no Corredor Chelas/Barreiro, Outubro 2007

Parece-me que as conclusões são relativamente óbvias, mas o melhor é ouvirmos o que diz a Comissão Independente para a Componente Rodoviária da Terceira Travessia do Tejo no Corredor Chelas-Barreiro: (o destaque a carregado é meu)
“- Um contraste significativo entre o transporte individual e o colectivo, diminuindo progressivamente a expressão deste último (por razões certamente diversificadas, que todavia deverão incluir insuficiências reveladas ou percepcionadas em termos de eficácia e de eficiência relativas);
- A significativa relevância do tráfego rodoviário combina-se com uma aparente ausência de efeitos da Ponte Vasco da Gama nos fluxos que utilizam a Ponte 25 de Abril, assinalando-se todavia que em ambas as situações os volumes de tráfego estão razoavelmente estáveis a partir de 2002 (a referida estabilidade, que acompanha a evolução nacional do tráfego rodoviário, será certamente mais influenciada pelo poder de compra e pelo preço dos combustíveis do que por factores metropolitanos ou locais).”


No Relatório de Estado do Ambiente de 2001 (pag. 16), uma fonte distinta da acima referida, pode ler-se: “A implantação de infra-estruturas (como a Ponte Vasco da Gama) teve como efeito intensificar o aumento da população nos concelhos directamente servidos com novas acessibilidades. (...) também a Área Metropolitana de Lisboa continuou a crescer em extensão, consumindo novos territórios rústicos ao mesmo tempo que continuou o processo de desertificação dos centros históricos, contrariando os princípios inerentes e desejáveis a um adequado ordenamento do território e ao desenvolvimento sustentável” (IA, 2002).


Vejamos ainda um outro facto revelado no Relatório do Observatório da Nova Travessia do Tejo em Lisboa - em 1998, Alcochete dispunha de uma área edificável semelhante à área edificada (ONTT, 2001). Aliás, basta atravessar a ponte para ver as novas e extensas urbanizações que entretanto foram crescendo…


Para mim as conclusões são relativamente imediatas: se queremos melhorar as condições de mobilidade nas travessias do Tejo em Lisboa, ou melhor dizendo, melhorar as condições de mobilidade (e qualidade de vida, claro!) das pessoas que diariamente têm de atravessar o Tejo, a solução passa por investir nos transportes colectivos, criando redes eficazes de transportes nas duas margens. É preciso que o transporte colectivo seja acarinhado e sejam criadas restrições ao transporte individual (ex. estacionamento tarifado, zonas de emissões reduzidas, etc.). Isto tudo a par, claro está, com um correcto ordenamento do território.


Parece-lhe que gastar 700 milhões de euros no tabuleiro rodoviário da nova travessia é uma opção inteligente? Não era melhor investir no Metro Sul do Tejo e no Metropolitano de Lisboa? Os 700 milhões de euros dão para significativos investimentos nestas duas infra-estruturas, podendo permitir um aumento de 25% na primeira ou um aumento de 200% na segunda! Mas, muitas outras opções existem, para fomentar o transporte colectivo, a opção certa, digo eu!



7 comentários:

  1. Boa noite,

    antes de mais quero dizer que estou contra a componente rodoviária na futura TTT. Contudo interrogo-me quão exequível é evitar esta componente nesta fase do projecto.

    Não será mais proveitoso assegurar que a componente rodoviária, que ao que parece terá 3 faixas em cada sentido, tenha corredor bus dedicado? Não será possível exigir certas contra-partidas, como por exemplo a extensão do Metro de Lisboa ao Barreiro, ou a extensão do MST ao Barreiro e Lisboa? Ou ainda a criação de uma faixa bus dedicada na Ponte 25 de Abril?

    Talvez estas propostas não façam sentido ou talvez façam, agradeço a vossa opinião.

    Obrigado

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  2. Uma outra questão ainda é o previsto alargamento da Ponte Vasco da Gama a quatro faixas para cada lado a partir do momento em que se atinja um certo volume de tráfego. Não será possível assegurar que esse alargamento seja feito para a criação de uma linha de BRT ou eléctrico rápido, como contrapartida à TTT?

    Desde já obrigado pela vossa paciência.

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  3. Eu ainda acredito que é possível evitar a componente rodoviária. Penso que o maldito défice e o desiquilibrio das contas públicas pode, neste caso, ser um aliado, como aliás já um leitor lembrou em comentário a um post. Quando o dinheiro é pouco, as escolhas têm ainda de ser melhores.
    Acredito que é possível reunir gente e vontades de diferentes quadrantes para lutar contra a rodovia. Temos de espalhar os argumentos e juntar as forças.
    Aliás, o principal objectivo deste blog é discutir o tema, sendo que foi desde o início apresentado que temos uma posição contra a componente rodoviária.
    Agradecemos os seus comentários e participação. Fica o desafio para que nos ajude a trazer mais amigos a comentar, sejam a favor ou contra. Da discussão virá a luz, e eu acredito que o bom-senso ainda pode vingar.
    Já vi outras obras pararem. Assim de repente lembro-me da Cidade Judiciária em Caxias ou dos empreendimentos no Litoral Alentejano. Ainda não há compromissos, que saiba, assumidos com nenhum investidor ou empreiteiro.
    Se algum dia concluir que não há remédio, então lá teremos de minimizar o male, e as soluções que aponta podem ser boas ideias.

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  4. Uma guerra perdida? Se calhar sim, mas eu também ainda não me rendo! Vamos juntar forças, força no blog.

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  5. Apostem é noutra guerra!

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  6. Peço desculpa se ainda estou mais atrasada do que vocês...
    Mas realmente para quê uma TERCEIRA ponte se aquela que chamamos "velha" tem comboio ??? e a Vasco da Gama está longe, longíssimo do limite...
    Invista-se em transportes colectivos, mais, melhores, onde se possa trazer bicicleta para depois se circular na cidade. Sejam criativos na rede e na forma de se poder circular dentro dessa rede, seja com gato, cão, bicicleta, de patins, como for... Estimulem os utentes a não trazer carro, com parques grátis, descontos nos impostos por utilização comprovada de transportes colectivos, descontos em bombas de gasolina só fora da cidade vá lá uns cêntimos até o continente dá, façam qualquer coisa... agora uma terceira ponte e logo para tão longe...?
    Será que os incomoda muito que Eu, os Lisboetas, os Turistas e seja quem for... goste de ver o Tejo sem ser às riscas ?!

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  7. acho que deviam fazer era uma guerra ou revolucao e por toudos os corruptos na cadeia a comecar pelo primeiro ministro e touda a sua escumalha porque dinheiro nao ha ja'o roubaram toudo

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